Você já se pegou pensando que está “sofrendo à toa”?
Sabe aquele momento em que tudo parece difícil, mas você se sente culpado por estar triste porque “tem gente passando por coisa pior”?
Essa comparação silenciosa, aparentemente inofensiva, é uma das formas mais comuns — e cruéis — de deslegitimar o próprio sofrimento.
Mas e se eu te disser que a sua dor, mesmo que não pareça tão grave, é legítima e merece cuidado?
Neste artigo, vamos falar sobre como subestimar a própria dor emocional pode te afastar da ajuda que você precisa, dificultar sua saúde mental e minar sua autoestima.
Se você costuma pensar que “não tem motivo suficiente para estar mal”, este texto é pra você.
O que é sofrimento legítimo e por que ele importa
Sofrimento não se mede com régua
Vivemos em uma cultura que valoriza a superação, a força e o controle. Dizer que está sofrendo virou sinônimo de fraqueza para muita gente.
Mas a dor emocional não tem uma escala universal. O que machuca você pode não afetar o outro — e tudo bem.
Imagine duas pessoas tropeçando na rua: uma só se arranha, a outra torce o tornozelo. A dor de ambas é real, mesmo que em intensidades diferentes. Nenhuma deveria ignorar o que está sentindo.
Na vida emocional, acontece o mesmo. Perder um emprego, terminar um relacionamento, enfrentar uma mudança… Mesmo que “não seja o fim do mundo”, essas situações podem gerar sofrimento legítimo e merecem acolhimento.
O perigo da comparação silenciosa
Frases como:
- “Tem gente em situação muito pior.”
- “Pelo menos você tem saúde.”
- “Isso não é motivo pra estar tão mal.”
…podem até parecer reconfortantes à primeira vista, mas na prática, funcionam como formas sutis de silenciar a dor emocional.
É claro que desenvolver empatia e perspectiva é importante. Mas comparar o próprio sofrimento com o dos outros como forma de desvalorizar o que se sente é uma armadilha emocional.
Como subestimar a própria dor emocional afeta sua saúde mental
1. Você deixa de pedir ajuda
Se você acredita que sua dor “não é tão válida”, provavelmente vai pensar que não precisa de terapia, de desabafar ou de tirar um tempo pra si.
Isso alimenta o ciclo de negação e solidão emocional, impedindo que você se recupere de forma saudável.
2. O sofrimento se acumula
A dor emocional ignorada não desaparece — ela se transforma. Pode virar irritação constante, ansiedade, insônia ou até sintomas físicos.
Negligenciar o que você sente hoje pode gerar consequências maiores amanhã.
3. Você compromete sua autoestima
Quando você deslegitima o que sente, inconscientemente está dizendo a si mesmo:
“Eu não sou importante o suficiente para ser cuidado.”
Com o tempo, isso afeta sua autoestima, seu senso de merecimento e até suas relações.
Como validar seu sofrimento emocional (e por que isso é libertador)
Passo 1: Nomeie o que sente sem julgamento
Pode parecer simples, mas dar nome ao que se sente é poderoso. Dizer “estou frustrado”, “estou magoada” ou “sinto um vazio” já é um passo para reconhecer a própria dor como algo real e digno de cuidado.
Evite invalidar com “mas não devia estar me sentindo assim”. Se está sentindo, é legítimo.
Passo 2: Fuja da comparação
A dor do outro não anula a sua. Assim como ninguém precisa ter um braço quebrado para ir ao médico, você não precisa estar no “fundo do poço” para buscar apoio emocional.
Pratique olhar para si com mais compaixão e menos comparação.
Passo 3: Crie espaços de acolhimento
Falar com um amigo empático, procurar terapia ou simplesmente escrever sobre o que está sentindo são formas de acolher sua dor.
Você não precisa justificar o sofrimento — só precisa permitir que ele exista para então ser cuidado.
O que dizem os especialistas?
Segundo a psicóloga Brené Brown, conhecida por seus estudos sobre vulnerabilidade e coragem,
“Comparar sofrimento é uma das formas mais comuns de evitar a empatia consigo mesmo e com os outros.”
Já um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology apontou que pessoas que validam seus próprios sentimentos desenvolvem maior resiliência emocional e menos sintomas depressivos do que aquelas que se julgam o tempo todo.
Ou seja: aceitar que você está mal, sem se julgar, é um passo fundamental para melhorar.
Sofrimento legítimo e a cultura da positividade tóxica
Você já ouviu que “é só pensar positivo” ou “você atrai o que vibra”?
Essas frases podem ser bem-intencionadas, mas reforçam a ideia de que sentir tristeza ou frustração é errado.
A positividade tóxica nega a complexidade da experiência humana. E ao fazer isso, aumenta a vergonha de quem está sofrendo por algo que “não deveria doer tanto assim”.
Não há problema em buscar leveza, mas a dor precisa ser sentida antes de ser superada.
Todo sofrimento é um pedido de cuidado
Você não precisa “merecer” estar mal.
Você não precisa “ter um grande motivo” para sentir dor.
Sentir já é motivo suficiente.
Em vez de negar o que sente, pergunte-se:
“O que essa dor está tentando me mostrar?”
“Como posso me acolher neste momento?”
Essas perguntas não eliminam o sofrimento, mas abrem espaço para que ele seja cuidado e não escondido.
Conclusão: Validar sua dor é um ato de coragem
Se você chegou até aqui, talvez já tenha identificado em si esse hábito de subestimar o que sente.
E está tudo bem, é um reflexo aprendido, não uma falha pessoal.
O importante é saber que todo sofrimento é legítimo quando é real pra você.
Não espere que ele se torne insuportável para buscar ajuda.
Permita-se sentir, acolher, cuidar. Você não precisa estar “no fundo do poço” para merecer luz.